A H. HELDER
Fria renovação sobre os
ombros nus
da Primavera.
No ar, a suavidade da
morte.
Tranquilas águas ao fundo
e a
putrefacta matéria
invisível. Eterno o Ser.
O contorno da tua janela
ainda tem
O mar
mas já não vislumbras a
Ilha.
Enrolam-te a mortalha e o
fumo em
que navegas
como opacos socalcos em
fúnebres
danças.
Aqui, continuaremos a
sorver-te as
palavras
tecidas na carne e no
recolher dos
nós
crivadas na minúcia dos
vocábulos
afiadas em gumes de fogo
batidas as frases
mas agora
bigornas
mansas.
Colhemos teus frutos num
tempo
inteiro
capaz de provocar astros
tornar noite
o dia
sabe-o a Primavera que te
carregou
sabe-o a noite fria.
Legas ao mundo um oceano
mudo
de espanto
em transe sobre a frase
cheia de água
e retraída na clara
espuma.
Espasmos
esteiras
alma caída
sublime pranto.
Sobre o horizonte, a onda
vestiu a
raridade da tua voz
e o olhar límpido
tão límpido.
Teus poemas, as folhas e
as sementes
já vão com o vento...
E o mundo triste
triste...
Triste e Órfão de teu
canto que
partiu com a maré...
Conceição Oliveira
in “Templo de Palavras n.º2”
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