quinta-feira, 30 de março de 2017

A H. HELDER


A H. HELDER

Fria renovação sobre os ombros nus
da Primavera.
No ar, a suavidade da morte.

Tranquilas águas ao fundo e a
putrefacta matéria
invisível. Eterno o Ser.

O contorno da tua janela ainda tem
O mar
mas já não vislumbras a Ilha.

Enrolam-te a mortalha e o fumo em
que navegas
como opacos socalcos em fúnebres
danças.

Aqui, continuaremos a sorver-te as
palavras
tecidas na carne e no recolher dos
nós
crivadas na minúcia dos vocábulos
afiadas em gumes de fogo
batidas as frases
mas agora
bigornas
mansas.

Colhemos teus frutos num tempo
inteiro
capaz de provocar astros tornar noite
o dia
sabe-o a Primavera que te carregou
sabe-o a noite fria.

Legas ao mundo um oceano mudo
de espanto
em transe sobre a frase cheia de água
e retraída na clara espuma.

Espasmos
esteiras
alma caída
sublime pranto.

Sobre o horizonte, a onda vestiu a
raridade da tua voz
e o olhar límpido
tão límpido.

Teus poemas, as folhas e as sementes
já vão com o vento...

E o mundo triste
triste...

Triste e Órfão de teu canto que
partiu com a maré...

Conceição Oliveira

in “Templo de Palavras n.º2”

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