CRIANÇAS DA PRAÇA
Ramagens de sonhos crescem perpendiculares nos olhos das
crianças da praça.
Elas têm as mãos frias, o nariz húmido, a roupa leve no
corpo, ante a geada de Novembro.
Mas não esmorecem.
Saltam, cantam, e contam os mosaicos gastos do chão da
praça, numa
lengalenga adocicada.
De vez em quando atravessam a praça outras crianças que vão
pela mão das
suas mães, agasalhadas com casacos de fazenda e gorros de
lã.
Estas crianças olham para as crianças da praça e ficam
hipnotizadas pelas
ramagens
dos sonhos que elas têm no olhar, como braços carregados de
vida.
Braços-leis de sobrevivência, perante o significado do
precário.
Braços-sorrisos frescos, perante a tristeza dos dias pardos.
Quantas delas têm a refeição feita?
Quantas delas desenham futuros em folhas de nada?
Quantas perguntas sem resposta cabem no olhar das crianças
da praça?
Alice Caetano
in “Orgânico - cinco poetas a mesma causa”
lido por Maria Helena
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