sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

SONETO DO AMOR E DA MORTE


SONETO DO AMOR E DA MORTE

Quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. Quando eu morrer
fica junto de mim,
não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.

Quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não
tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.

Vasco Graça Moura
in "Antologia dos Sessenta Anos"

lido por Regina Bacelar

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