SONETO DO AMOR E DA MORTE
Quando eu morrer murmura
esta canção
que escrevo para ti.
Quando eu morrer
fica junto de mim,
não queiras ver
as aves pardas do
anoitecer
a revoar na minha
solidão.
Quando eu morrer segura a
minha mão,
põe os olhos nos meus se
puder ser,
se inda neles a luz
esmorecer,
e diz do nosso amor como
se não
tivesse de acabar, sempre
a doer,
sempre a doer de tanta
perfeição
que ao deixar de bater-me
o coração
fique por nós o teu inda
a bater,
quando eu morrer segura a
minha mão.
Vasco Graça Moura
in "Antologia dos Sessenta Anos"
lido por Regina Bacelar
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