LADAINHA DOS PÓSTUMOS
NATAIS
Há-de vir um Natal e será
o primeiro
em que se veja à mesa o
meu lugar vazio
Há-de vir um Natal e será
o primeiro
em que hão-de me lembrar
de modo menos nítido
Há-de vir um Natal e será
o primeiro
em que só uma voz me
evoque a sós consigo
Há-de vir um Natal e será
o primeiro
em que não viva já
ninguém meu conhecido
Há-de vir um Natal e será
o primeiro
em que nem vivo esteja um
verso deste livro
Há-de vir um Natal e será
o primeiro
em que terei de novo o
Nada a sós comigo
Há-de vir um Natal e será
o primeiro
em que nem o Natal terá
qualquer sentido
Há-de vir um Natal e será
o primeiro
em que o Nada retome a
cor do Infinito!
Natal, e não Dezembro
Entremos, apressados,
friorentos,
numa gruta, no bojo de um
navio,
num presépio, num prédio,
num presídio,
no prédio que amanhã for
demolido...
Marília
Teixeira
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