quarta-feira, 26 de outubro de 2016

O ENTERRO DA CIGARRA


O ENTERRO DA CIGARRA

As formigas levavam-na... Chovia...
Era o fim... Triste outono fumarento!...
Perto, uma fonte, em suave movimento,
Cantigas de água trémula carpia.

Quando eu a conheci ela trazia
Na voz um triste e doloroso acento.
Era a cigarra de maior talento,
Mais cantadeira desta freguesia.

Passa o cortejo entre árvores amigas...
Que tristeza nas folhas... Que tristeza!
Que alegria nos olhos das formigas!...

Pobre cigarra! Quando te levavam,
Enquanto te chorava a Natureza,
Tuas irmãs e tua mãe cantavam...

(Últimas Cigarras, Rio de Janeiro, 1950, pág. 73)

lido por Leonor Reis

Sem comentários:

Enviar um comentário