quarta-feira, 26 de outubro de 2016

CANSADA


CANSADA

Cansada de me ser um relevo abstracto
na textura das coisas que piso. Cansada
de percorrer esta cordilheira insular de
abraços possíveis.

Aprendi a respirar vazios estranhos ao
meu corpo e dói-me já a força de tanto
me salvar dos espaços contaminados.

Cansada de calcar a ternura em gavetas
que já não fecham e depois partir para
um mundo onde não cabe todo o tempo
que ainda falta.

Cansada.

Cansada de tudo o que me sobra do chão.

Virgínia do Carmo
in “Relevos”

lido por Maria Augusta da Silva Neves

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