quinta-feira, 1 de setembro de 2016

POESIA


POESIA

Os meus poemas
Servem de distracção
Enquanto penso neles
Não estou na solidão

Eu sou poeta desde que nasci
Mas ninguém se tinha apercebido
Só há pouco comecei a escrever
Tudo o que cá tinha metido

No tempo em que eu me criava
E na escola andava
Ao ler os poetas eu dizia
Assim também eu queria ser poeta
Nem que fosse só por um dia

Não é fácil ser poeta
Isto já vem de raiz
Muita gente fala fala
E não sabe o que diz

Um poeta tem de estar só
Não pode ser interrompido
Muitas vezes precisa de escrever
E não pode estar distraído

Para ser um bom poeta
Tem de ser uma pessoa bem informada
Ter cultura geral
E estar muito indignada

O poeta e o tecelão
Têm algo em comum
Cada um tem a sua ideia
Um gosta de urdir a sua teia
E o outro gosta de escrever
O que lhe vai na ideia

O poeta tem dificuldade em adormecer
Muito trabalho na cabeça
Para decorar e escrever

Começaram a dizer-me
Que os poetas ficam para a história
Pois eu gostava de ficar
Para ser relembrada pelas pessoas
Quando já cá não andar

Um poeta nunca está só
Anda sempre acompanhado
Seja de noite ou de dia
Ele está sempre ocupado

Em casa de poeta
Já não há só poesia
Há também alguns fenómenos
Com muita fantasia

Um poeta consegue
Levar a água ao seu moinho
Mas parte das vezes as coisas
Não batem certas
E têm de ficar pelo caminho

O poeta tem uma chave secreta
E não deve prometer nada a ninguém
Os poemas não saem quando queremos
Mas quando lhes convém

O poeta tem uma arma
E não precisa de dar ao gatilho
Para se poder defender
Quando está incomodado
Pega na caneta e põe-se a escrever

Um poeta não precisa de ver muito
Para saber tudo
O que importa é estar atento
Ao seu pensamento
E logo receberá a resposta

O poeta quer
A obra nasce
Mas que grande ilusão
O poeta não consegue
Se não tiver alguma inspiração


O poeta gosta do desconhecido
Daquilo que nada lhe diz
Gosta de ver tudo à distância
Para se sentir mais feliz


Durante a minha vida
Consegui encobrir toda a minha sabedoria
Agora depois de velha
Não queria morrer sem mostrar
Aquilo que eu sabia

Eu surpreendi muita gente
Com a minha sabedoria
Consegui escrever os meus livros
Que era o que eu mais queria

Os meus poemas são como um diário
Só os devem ler com a minha autorização
Eles revelam as alegrias e as tristezas
Que me vão no coração

Os meus poemas foram feitos
Debaixo de uma grande tensão nervosa
Depois de os fazer
Fiquei mais aliviada e mais famosa

Eu fui meter-me na boca do lobo
Sem saber para onde ia
Fui ver um espectáculo tão interessante
Que se tratava de poesia

O poeta não deve estar parado
Precisa de ver coisas novas
Para ficar inspirado

O poeta gosta do silêncio
Não quer ser incomodado
Prefere ouvir o chilrear dos passarinhos
Que pousam no seu telhado

Quando é que eu vou fechar a porta
Com uma fechadura tão velha
Por bem voltas que dê à chave
Nunca mais acerto nela

Nunca me vi rodeada de tantas estrelas
Brilhavam como diamantes
Só parece que estava a caminho do céu
Acompanhada de anjos muito distantes

Mafalda Lopes

in “O Último Grito”

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