Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, “Aqui estou”! ...
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então, acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma
missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos
ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e
luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e
montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e
sol.
Alberto Caeiro (heterónimo Fernando Pessoa)
in “Guardador de
Rebanhos"
Lido por Agostinho Costa
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