quarta-feira, 21 de outubro de 2015

CAMINHANTE


CAMINHANTE

Tudo passa e tudo fica
Mas para nós é passar;
Passar fazendo caminhos
Caminhos sobre o mar.

Nunca procurei a glória,
Nem deixar na memória
dos homens a minha canção;
Eu amo os povos subtis,
simples e gentis,
Como bolas de sabão.

Gosto de vê-las pintadas
De sol e grená, voar
Debaixo do céu azul, tremer, e
De repente arrebentar....

Nunca persegui a glória.

Caminhante, são tuas pegadas

O caminho e nada mais;
Caminhante, não há caminho,
O caminho faz-se com o andar.

Ao andar faz-se caminho,
E ao olhar para trás,
Vê-se o caminho que nunca
Se há-de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho
Apenas rasgos de água deixados no mar.

Há já algum tempo nesse lugar,
Onde hoje os bosques se vestem de espinhos,
Se ouviu a voz de um poeta gritar:
"Caminhante, não há caminho,
Faz-se caminho ao andar".

Golpe a golpe, verso a verso...

Morreu o poeta longe de sua casa.
Está coberto pelo pó de um país vizinho;
.
Ao afastar-se; viram-no chorar.
"Caminhante, não há caminho,
Faz-se caminho ao andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...

Quando o pintassilgo não pode cantar,
Quando o poeta é um peregrino,
Quando de nada nos serve rezar,
"Caminhante, não há caminho,
Faz-se caminho ao andar".

Golpe a golpe, verso a verso

António Machado

Lido por Toniantonio

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