quarta-feira, 20 de maio de 2015

UM CÁLICE DE PORTO


UM CÁLICE DE PORTO

Hoje já não pergunto porque não voltas.
Apresso-me apenas para chegar a destino nenhum
e apagar as luzes que te vestiram.
Depois permaneço deste lado do palco. Este lado
que se mantém inalterável e escuro, onde a vida
não é mais que um reflexo isento de espelhos.
Quisera ter-te... mas não passei de um adereço
dispensável na representação.
Resta-me apenas o cenário onde ainda te revejo
e vou confundindo a realidade para que o sonho
não se suicide.
De alma nua, amo apenas o mar que nos uniu
e odeio a mar que nos afastou.

Havíamos ficado, noites inteiras depois de um brinde
onde juramos eternidade. Perdidos no riso
ou exaustos na paixão, deixamos vazios, todos os cálices
daquele Porto que escolhias por amor.
As horas morriam no silêncio dos nossos corpos
emudecidos de prazer, numa cama
que ficou gravada pelas nossas mãos.
Se a morte chegasse, pediria apenas um cálice
de Porto dourado. E morreria bebendo cada beijo teu!


Ana Paula Lavado

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