A MENINA HÚMIDA
Eis a húmida menina
na frieza do cinzento!
A brancura Diamantina
solitária contra o
vento!...
Ai que triste estás
agora,
cresceu a tua nudez,
sem a moldura de outrora
não conheces o que vês.
Aonde estão as flores
que te emprestavam
ternura?
Arraial de multicores
com tamanha formusura!
As árvores cheias de
vida,
as reuniões de estorninhos,
o cheiro a terra mexida,
ao amanho dos ancinhos.
Os bancos sabiam estórias
para quem as soubesse ler…
Vidas tristes, inglórias,
que eles sabiam entender…
Minha húmida menina,
tão solitária e tão bela
não tinhas ares de
grã-fina,
sempre bateste a chinela.
Lá ao fundo, atrás de ti,
parece já mais distante…
quase não o conheci,
não fora o jeito elegante,
está Almeida Garrett!
Sumiu o brilho do bronze,
e até perguntam. – quem é,
nesta solidão de monge?
Minha húmida menina,
conheci-te em carne viva,
velhinha, com dor felina,
tão amarga, tão sentida,
pensar que foste rainha
deste império que é o
Porto,
onde a Avenida sozinha
prenuncia um burgo morto!
Pelo sangue desta menina
que tão jovem se ofereceu
e por Santa Catarina,
pelo antigo Coliseu,
pela joia de São Bento,
pela urbe, o meu
conforto!
por este granito ao
vento,
não deixem morrer o
Porto!
Fevereiro 2008
Maria de Lourdes
Martins
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