TERRA
ANTIGA E RUDE
Esta
paz!... Este silêncio e solidão,
Esta
brisa brandinha que perpassa,
Estas
montanhas nuas, este chão
Encardido
e agreste em que me sento,
Que
me dão ilusão de estar em graça
E
ser irmã da terra, irmã do vento…
Estes
barrocos velhos, carcomidos
De
ferrugem e musgo milenar…
E
os ribeiros que correm, escondidos,
Na
pressa louca de chegar ao mar…
São
serras e mais serras no horizonte,
São
campos velhos que a giesta invade,
E
é o meu coração que, como fonte,
Se
abre todo em hossanas de saudade!
Nesta
amplidão bailavam as espigas
Sempre
que o vento as vinha namorar…
E
de longe chegavam raparigas
De
olhos a rir e sonhos a voar…
Tudo
me encanta e me diz segredos
Que
ninguém mais escuta, além de mim,
A
urze roxa, as ervas e os penedos,
E
o firmamento imenso, azul, sem fim…
Mas
o silêncio! Companheiro mudo
Que
escuta o meu sentir, o meu pensar
E
mesmo sem pedir-lhe me diz tudo
Quanto
quero ou não quero recordar…
Traz-me
vozes há muito diluídas
No
mais profundo do meu consciente,
Melodias
que andavam envolvidas
De
juventude inquieta, irreverente…
E
tu, ó vento, meu irmão traquina,
Lembras-te
inda de mim?
De
quando eu era menina?
E
ele, meiguinho e em surdina,
Diz-me
que sim, que sim, que sim!...
Terra
antiga, dos meus primeiros passos,
Que
logo me endoidaste, mal nasci,
Não
me renegues, não?... Abre-me os braços,
Que
há-de, um dia, o meu corpo ser p’ra tu!
Maria Ramajal Jorge
in “Longa
Metragem”
lido por Maria de Lourdes Ferreira
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