NO BICO DA CEGONHA
Ser poeta é trocar whisky por soda
comer bordados em ponto cruz,
andar com o mundo à roda
tapar misérias com roto capuz,
escrever c’máquina de costura
palavras ao dobrar das esquinas
manter irrepreensível postura
ao fazer manguitos ás cinco quinas!
É sonhar com mariposas de novo,
dizer, a mãe de Cristo era
Madalena,
contar os heróis dum nobre povo
ao dirigir-se às finanças numa
rena,
armar guerras contra a maré
alimentar egos a novelos d’algodão
e às portas da morte bater o pé
beijando c’ardor um escorpião
É ainda andar abraçado a Lucifer
fecundar Eva nas barbas de Adão.
e ao possuir a irmã da mulher
trocar os cravos por migas de pão
Ser poeta por definição infindável
é envaidecer sem norma a vergonha
dizer que o mar é solo arável
e virem ‘ondas no bico da cegonha
Cito
Loio
24/3/2014
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