quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

DE GOTA A GOTA PINGA A PINGA



DE GOTA A GOTA PINGA A PINGA

A noite é um autêntico vendaval sem tréguas
O céu eclode em fúria ameaçador
Ouvem-se os bramidos do vento a léguas
Das árvores fustigadas e arrastadas
Os gritos lancinantes de sofrimento e dor

Na penumbra do meu quarto em desassossego
Dou conta que sou mesmo acompanhada
Sou frágil indefesa e sinto muito medo
Diante desta força incontrolável da natureza
Que resolveu ameaçar a minha madrugada

Exausta procuro fugir ao som das pedras de granizo
Maltratando o pobre telhado com crueldade infinda
É então que entre tantas vozes um débil som diviso
O som de uma gota que de gota a gota se transforma
Num caudal donde audaciosa se solta uma débil pinga

A noite ficou parada porque o vendaval adormeceu
Por mim o céu pode mesmo eclodir tanto me faz
Pois se até a voz do vento aos meus ouvidos feneceu
E os doloridos gritos das árvores ficaram para trás
Tudo isto porque nesta noite algo diferente aconteceu

A madrugada farta de vendavais fez a magia
De transformar gota a gota numa pauta musical
E do timbrado som da pinga caindo do telhado
Solta suave compassada como um sagrado ritual
Compôs uma sublime e doce melodia

Pode parecer um sonho ou fantasia
Mas há tanta coisa por desvendar ainda
Como pode gota a gota pinga a pinga
Transformar um vendaval em melodia
Plena de encanto e poesia

Alice Queiroz

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