domingo, 16 de fevereiro de 2020

António Sá Gué


Medo

Ninguém sabia de ti
e eu encontrei-te.
Cavei,
arei,
meti as mãos dentro de mim,
fui ao fundo do mar,
remexi os arquétipos de nós,
revirei o universo dos outros,
aparei os raios das minhas trovoadas,
mas encontrei-te.
Encontrei-te, finalmente!
Vi-te na negritude da noite,
no silêncio da palavra,
no grito sem dor,
nos fósseis das ideias.
Eu sou tu.
Encontrei-te!
No fluir do sangue,
no mastigar de mim,
na síntese da vida,
no terror do Nada.
Toquei-te!
Sei, sem saber, que te toquei.
Saboreei-te!
Nos pingos
da dor ausente.
Tu és agridoce,
tu és eu.


António Sá Gué

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