terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Cantares



Cantares
(Antonio Machado)

Tudo passa e tudo fica
porém o nosso passar,
é passar fazendo caminhos
caminhos sobre o mar

Nunca persegui a glória
nem deixei na memória
dos homens minha canção
eu amo os mundos subtis
leves e gentis,
como bolas de sabão

Gosto de vê-los pintar-se
de sol e grená, voar
debaixo do céu azul, tremer
subitamente e quebrarem-se…

Nunca persegui a glória

Caminhante, são tuas pegadas
o caminho e nada mais;
caminhante, não há caminho,
se faz caminho ao andar

Ao andar se faz caminho
e ao voltar a vista atrás
se vê a senda que nunca
se há de voltar a pisar

Caminhante não há caminho
somente marcas no mar…

Há tempo neste lugar
onde os bosques se vestem de espinhos
ouviu-se a voz de um poeta gritar
“Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar”…

Golpe a golpe, verso a verso…

Morreu o poeta longe do lar
sob o pó de um país vizinho.
Ao afastar-se viram-no chorar
“Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar…”

Golpe a golpe, verso a verso…

Quando o pintassilgo não pode cantar.
Quando o poeta é um peregrino.
Quando de nada nos serve rezar.
“Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar…”

Golpe a golpe, verso a verso.


(O poema que AC não leu!)

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