terça-feira, 21 de janeiro de 2020

António Sá Gué



Espera

O tempo ainda não se libertou, nem sei se alguma vez se libertará.
Continua a estrebuchar arrastando as causas das coisas atadas ao tornozelo.
Estou um pouco nervoso, mas continuo a esperar.
Que mais posso fazer senão esperar?
Nada.
Espero os dias, espero as noites, espero o luar, espero ninguém, espero a alucinação do cansaço e da fome.
Espero!
Espero até que o sono chegue, mas não quero dormir.
Espero a morte, mas não quero morrer.
Ainda espero, espero até que o silêncio se torne mais denso e me queime o pensamento. Espero até não acreditar em nada do que digo.
Espero até que o nevoeiro passe e me revele o segredo.
Espero visitar a Escócia.
Espero um dia ver a Pirâmide de Gizé.
Espero até amanhã.
Espero sempre.
(António Sá Gué)

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