quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Coletânea Galeria Vieira Portuense 2019


A POESIA NA GALERIA

No dia 14 de Novembro completam-se 10 anos sobre a primeira tertúlia de poesia ocorrida na Galeria Vieira Portuense.
Não foi um caso pensado, como os dos projectos preparados com tempo com vista a dar corpo a uma ideia. Aconteceu como acontecem aqueles poemas que surgem na mente sem aviso. 
Umas semanas antes, um casal de pintores, oriundo da outra banda do mar, levado pela curiosidade de quem pratica o mesmo mister, entrou na galeria em dia de inauguração de exposição de pintura, chegando à fala sobre as artes, as obras de cada um e a vida cultural da cidade do Porto que começava a encher-se de eventos, contrariando a sua tradição de terra meramente fabriqueira e comercial.
Falaram de um Clube Literário onde se dizia poesia e de um outro evento em que eles participavam mensalmente, propondo encaminhar para esta galeria meia dúzia de poetas que, por certo, emprestariam às nossas iniciativas o valimento da sua arte.
“Ut pictura poesis”, escrevera Plutarco 20 séculos antes do nascimento de Cristo na sua “Arte Poética”. Por isso, pareceu fazer sentido a oferta e lá se esperou a gente da poesia na tarde do aludido dia 14 de Novembro de 2009, Sábado em que se inaugurava a exposição de Arte ao Redor do Touro, a primeira das várias que se organizaram ao longo dos anos.
A casa encheu-se. A excelente intervenção dos poetas presentes, conjugada com a beleza das obras expostas nas paredes, deu sentido à famosa expressão do poeta Simónides de Céos: “a pintura é poesia calada e a poesia, pintura que fala”.

Com a simplicidade das coisas perfeitas que a natureza cria, a tertúlia passou a ser um hábito que se repete mês após mês, sempre nas tardes do terceiro Sábado, desde há quase 10 anos. Não há regras escritas e homologadas. Só boa educação e bom gosto. As pessoas apresentam-se na galeria, manifestam o seu desejo de declamar, dão o nome e aguardam que pelas 16 horas lhes sejam distribuídas as listas dos inscritos para, pela ordem de chegada, dizerem o seu poema. Não há apresentações, nem discursos laudatórios. Só poesia, intercalada por música, quando alguém traz um instrumento com vontade de tocar.
Também há vinho do Porto, não só porque é tradição por estas bandas, mas também porque, como dizia Ernest Hemingway, “o vinho é uma das coisas mais civilizadas do mundo e uma das coisas mais naturais que alcançou a maior perfeição”. 

Porto, 26 de Agosto de 2019
Agostinho Costa

1 comentário:

  1. Muito bem! Pela minha parte, os meus agradecimentos a quem teve a feliz ideia de uma Tertúlia de Poesia na Galeria. Agradecimentos, também, à administração da Galeria, por ter aceite o repto e dar continuidade, até aos dias de hoje e, penso, para anos futuros. Parabéns, também, por este texto. Bem-hajam.

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