RECEITA PARA FAZER UM POLÍTICO CORRUPTO
Mergulha-se num tacho uma cabeça de porco,
Duas chouriças, um salpicão e um naco de carne de vaca.
Se for boi também serve, se for morto e não roncar.
Cozinha-se em lume furioso com resina e um chocalho.
Entretanto, o individuo candidato a político corrupto,
Embrenha-se na naftalina do roupeiro,
Dá um coice psicadélico no casaco de fazenda
E uma escarradela tuberculosa nos agasalhos de lã.
Em circuito de macaco de circo,
O individuo, candidato a político corrupto,
Fareja as fendas em meticulosas acrobacias e... pimba!
Retira o esqueleto lantejoulado em haste de bandeira
E chapa-lhe no escroto o hino dos abutres.
Continuando, ainda assim, o esqueleto rançoso,
O individuo, candidato a político corrupto,
Empoleira na lapela o país sem nau, aos berros
E pavoneia-se em patê de lagosta pelo bidé...
Para opinar com devoção e ciência,
O esqueleto agora vestido com louvor,
Deve ostentar acima das sobrancelhas duas potentes antenas.
Mas atenção, nada de falcatruas...
As antenas devem ser cartonadas e curtas
Para não acasalarem com os fios de alta tensão.
O esqueleto já assobia várias' óperas e retóricas...
Em cima do trapézio dedilha c céu, arranha um discurso apaixonado...
É ilusionista encarteirado, mas nunca será grilo nem fadista.
Quando a panela ao lume roncar um fumo negro com odor a esturricado,
O fantoche está pronto.
Viva o político corrupto!
Rosa Valente
É mesmo valente!
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