NÃO
TE DEBRUCES
Não
te debruces assim
No
espelho da cristalina água
Lembra
em cada dia
O
ignaro passageiro mortal
Que
a luzidia água
Em
que obstinado te miras
Também
pode ser letal
Lembra
Narciso enfeitiçado
Que
as águas da tua embriaguez
Trarão
consigo em brevidade
Ó
estonteado e mísero cego
A
negação de tudo o que tu és
O
tamanho de toda a tua pequenês.
Lembra
por isso sem cessar
Que
o mundo afoito e desigual
Tece
sapiente para ti, incauto
Tramas
de aço e de ouro
Com
as quais a ti mesmo
Ardilmente
hás-de enlear...
Lembra
para sempre ó Narciso
Que
a perfeição de tudo
Do
todo que quiseres ter
Será
afinai sem pejo
O
áureo acenar moribundo
Da
perfeição que te propões
Insensato
para ti fazer nascer...
Tu
não queiras por isso
Ó
moribundo extasiado
Da
plenitude de todo o teu eu
Toda
a falsa pujança
Pois
na magna brevidade
Do
tempo que a si tece
Guardarás
perenemente em dor
Toda
a inócua lembrança
De
que um dia quiseste...
Não
queiras, por isso
Ó
deslumbrado Narciso
Nada
do funesto tempo
O
doirado fosco do teu dia
E
lembra para sempre
Que
o acalento do que quiseres
É
um magnânimo trinado
Que
traz a ti próprio
Em
eterno cadafalso
Perdido
em elegia
Perdido
em dor em alegria...
Não
queiras, por isso
Narciso,
a perfeição
Que
sapientemente
A
ti, e só a ti ludibria...
Acilda Almeida
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