A UMA POETA... (que partiu por estes dias)
Entre o sono e o sonho
o dia amanheceu cinzento
como o mar - névoa perpétua.
Desconheço verbos
adjetivos, palavras outras
capazes de te soletrar a esperança.
Das horas possíveis
engolidas em surdina
o desalento acomodado.
Implode a garganta
e a língua muda
as angústias minam teu corpo.
Ausência de portas abrindo
caminhos anoitecidos
a escuridão vomitou as dores.
Não vacilas porque te dói o charco
o corpo, o chão
vida madrasta.
Caminhaste sem esperar
a devolução da imagem
espelho baço.
Dentro de ti já não há barcos
nem velas
todo o branco enegreceu.
A cauda de um cometa atingiu-te o peito
os estilhaços são poemas
Ressuscitados.
Para sempre, a tua doçura, lembrança certa.
Conceição Oliveira
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