quarta-feira, 26 de setembro de 2018

A UMA POETA...



A UMA POETA... (que partiu por estes dias)

Entre o sono e o sonho
o dia amanheceu cinzento
como o mar - névoa perpétua.

Desconheço verbos
adjetivos, palavras outras
capazes de te soletrar a esperança.

Das horas possíveis
engolidas em surdina
o desalento acomodado.

Implode a garganta
e a língua muda
as angústias minam teu corpo.

Ausência de portas abrindo
caminhos anoitecidos
a escuridão vomitou as dores.

Não vacilas porque te dói o charco
o corpo, o chão
vida madrasta.

Caminhaste sem esperar
a devolução da imagem
espelho baço.

Dentro de ti já não há barcos
nem velas
todo o branco enegreceu.

A cauda de um cometa atingiu-te o peito
os estilhaços são poemas
Ressuscitados.

Para sempre, a tua doçura, lembrança certa.

Conceição Oliveira

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