(primeiro
morrem os homens de pois as casas)
primeiro
morrem os homens de
pois as
casas
sem
falarmos das casas de adubos
as casas
dos pobres de todos os tempos
e os
homens que desde adão são os primeiros a
final
chefes presidentes generais reis marinheiros
condutores
de camiões de longo curso banheiros
famílias dispersas em várias famílias
uns vão
para o brasil de onde não voltam
outros
desaparecem sem deixar saudades
outros
morrem outros ainda andam por aí
como a
cortiça à tona da água
e ainda pior misturam se como os detritos
da
lavagem dos petroleiros
derretem
o peixe e o fundo das águas salgadas
oh mar
oh mar salgado
todas as
espécies marítimas das algas
ao
plâncton alimento rei
outros
ainda ainda pior os tubarões
nobres
sanguinários das ondas
as ondas
do cabelo que nunca tivemos
nem
poupa
e quem é
que poupa? ninguém poupa!
diziam me os amigos do jet
(ia a
dizer jet sete um número de Deus
e não de
pessoas mortais como a alcachofra
alecrim
aos molhos o pessegueiro e a toutinegra
tão
negras como as capas negras
ou da
fome negra
preta é
a morte
nem de
pé nem a pé
nos
conseguimos afirmar como espíritos
nem como
almas que nos desejamos
corpos a desejarem passarelas
olhos
gulosos a invejarem portes e suportes
fugas e
contrafugas
(nunca
mais seremos os mesmos de
pois de
andarmos a pedir esmola
ou a
roubar automóveis todos os automóveis
a
trabalhar a vida dura
mente
pela força do trabalho
ou a
fazer versos à lua de tantas luas
que
agora têm direito a ter férias
e nem
Deus podia prever isso)
a
caminho do hospital ou da biblioteca
de
livros (o)usados
o porto
ou da cidade
de
valongo ou de alvaiázere
santo
antónio do louriçal e do pombal
onde se
não há pombas
castelo houvera e sebastião
de
carvalho e melo o marquês
ao menos
uma vez
regimentos de aventuras e pacotes
de castanhas por descascar
coveiros
de folga
gatos
pingados dispensados
as águas
dos rios a correrem a correrem
para a
foz
a foz de
braço dado com o mar
que se
foi português foi de vez
como nós
as nozes e as casas
Anselmo Simões
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