quarta-feira, 2 de maio de 2018

(primeiro morrem os homens de pois as casas)



(primeiro morrem os homens de pois as casas)

primeiro morrem os homens de
pois as casas
sem falarmos das casas de adubos
as casas dos pobres de todos os tempos
e os homens que desde adão são os primeiros a
final chefes presidentes generais reis marinheiros
condutores de camiões de longo curso banheiros
 famílias dispersas em várias famílias
uns vão para o brasil de onde não voltam
outros desaparecem sem deixar saudades
outros morrem outros ainda andam por aí
como a cortiça à tona da água
 e ainda pior misturam se como os detritos
da lavagem dos petroleiros
derretem o  peixe e o fundo das águas salgadas
oh mar oh mar salgado
todas as espécies marítimas das algas
ao plâncton alimento rei
outros ainda ainda pior os tubarões
nobres sanguinários das ondas
as ondas do cabelo que nunca tivemos
nem poupa
e quem é que poupa? ninguém poupa!
diziam  me os amigos do jet
(ia a dizer jet sete um número de Deus
e não de pessoas mortais como a alcachofra
alecrim aos molhos o pessegueiro e a toutinegra
tão negras como as capas negras
ou da fome negra
preta é a morte
nem de pé nem a pé
nos conseguimos afirmar como espíritos
nem como almas que nos desejamos
 corpos a desejarem passarelas
olhos gulosos a invejarem portes e suportes
fugas e contrafugas
(nunca mais seremos os mesmos de
pois de andarmos a pedir esmola
ou a roubar automóveis todos os automóveis
a trabalhar a vida dura
mente pela força do trabalho
ou a fazer versos à lua de tantas luas
que agora têm direito a ter férias
e nem Deus podia prever isso)
a caminho do hospital ou da biblioteca
de livros (o)usados
o porto ou da cidade
de valongo ou de alvaiázere
santo antónio do louriçal e do pombal
onde se não há pombas
 castelo houvera e sebastião
de carvalho e melo o marquês
ao menos uma vez
regimentos  de aventuras e pacotes
 de castanhas por descascar
coveiros de folga
gatos pingados dispensados
as águas dos rios a correrem a correrem
para a foz
a foz de braço dado com o mar
que se foi português foi de vez
como nós as nozes e as casas

Anselmo Simões

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