Assim
ou... nem tanto. 136
A PELE
Crescer
implica mudar muitas vezes de pele. É um pouco como alterar o ritmo da passada,
o jeito de olhar, de pensar, de ser. A pele é o que nos veste quando estamos
nus. Moldáveis desde que nascemos, somos afinal reflexo de quem nos ensina e
educa. Traduzimos no comportamento, princípios e valores que recebemos e só
depois interiorizamos o legado ou, no limite, o rejeitamos por ser pele onde cabemos
mal ou não cabemos. Somos, como referi, sempre moldáveis mas a nossa
constituição única responde com maior ou menor resistência aos sucessivos
caminhos que a vida nos propõe. A mesma educação gera resultados divergentes de
acordo com a genética e o temperamento de quem a recebeu. Se é verdade que há,
nas criaturas, porções vitais comuns, são incontornáveis as diferenças que nos
tornam inconfundíveis, só capazes de aceitar, integralmente, o que nos seja
compatível. Mudei muito o modo de ser e de estar, o pensamento, a cultura e o
gosto, as vertentes do prazer que me tornam anjo ou demónio à vez. A pele é,
obviamente, outra. Sinto-a hoje mais dúctil, elástica, hidratada, mais apta a
fazer a paz ou a guerra consequentes, mais fácil de arrancar, substituir,
adaptar, crescer. Sempre mais sábia, tolerante, informada. Mudo-me muito e
amanhã vou sentir tudo de outra forma. Eu sou a mudança! Mantenho, no entanto,
estável o veneno. Como se fosse, potencialmente, uma cobra. Mantenho, partidas
embora, as minhas asas inúteis. Um dia, mudo-me radicalmente e voo.
Edgardo Xavier.
Sintra, 19 de Abril de 2018
Lido por Manuela Caldeira
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