sexta-feira, 23 de março de 2018

ENCONTREI-TE, PAI!



ENCONTREI-TE, PAI!

Os trilhos da minha caminhada
conduziram os meus passos
ao monte atrás da nossa casa,
Pensava em ti, quando olhei e vi
o que tomei por um devaneio…
Havia, no caminho ermo,
uma estranha mas doce melodia
entoada por dezenas de abelhas
que se deliciavam num jardim,
de belas ervilhas de cheiro.
Inimaginável por mim!
O fascínio pôs-me de joelhos!
Tal era o silêncio que silenciou
a minha própria voz.
Então de repente Pai, aconteceu,
tu estavas ali, a olhar para nós!
Levou-me bem longe o devaneio,
quando plantavas às escondidas
com o maior desvelo e cuidado,
bardos de ervilhas de cheiro
para mais tarde me surpreender
ao ver-te chegar abraçado
a um belo ramo perfumado.
Nunca mais vi, nem semeei,
dessas flores no nosso jardim!
Quem as teria plantado ali, para mim?
Só tu podias ser! Mandaste-as no vento!

Foram regadas talvez com as tuas lágrimas
que o sal transformou num aroma intenso,
para apaziguar as minhas mágoas
e perfumar o meu vazio imenso.

Entendi Pai, que onde estás,
também existe a primavera
que há sementes e memória
e que o vento ficou à espera
de as semear no devido momento,
para que pudesse contar a nossa história.
Está contada!
Fica bem!
Pai, obrigada!
Amém.

Alice Queiroz
in “Jardins de Afectos”
lido por Isabel Moura

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