Não foste para mim,
Felicidade!
O sorriso que levas a
outras bocas
e que as enche das
ilusões mais loucas,
vem a mim sob a forma
de saudade.
Saudade do que nunca
tive, da ventura
que todos conseguiram,
menos eu.
Saudade de uma
estranha criatura
que devia ser minha e
já morreu.
Nunca pensei que a
vida fosse assim,
Tão vazia, tão áspera
e tão triste!
Será verdade que o
prazer existe?
Felicidade, não tens
nada para mim?
Será possível que na
tua taça
nem ao menos reste um
pouco desse vinho
que dás aos outros a
beber, pelo caminho
onde minh’alma, quase
morta, passa?
Ai, vinho que
embriagas mais que tudo!
Ai, lábios de mulher
que eu não beije!
Mãos amorosas, mãos
macias de veludo
que me espancaram
quando desejei!
Felicidade! Sonho azul
da mocidade!
Ânfora cheia do
perfume de mil bocas,
perfume cheio de
carícias loucas,
eu só conheço a tua
irmã Saudade.
Não foste feita para
mim, Felicidade!
Onestaldo
de Pennafort
Declamado
por Aquilino Tojal
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