quarta-feira, 12 de julho de 2017

NÃO ME PEÇAS MAIS CANÇÕES


NÃO ME PEÇAS MAIS CANÇÕES

Se passares pelo adro
No dia do meu enterro,
Diz e à terra que não coma
Os anéis do meu cabelo.

Já não digo que viesses
Cobrir de rosas meu rosto,
Ou que num choro dissesses
A qualquer do teu desgosto;

Nem te lembro que beijasses
Meu corpo delgado e belo,
Mas que sempre me guardasses
Os anéis do meu cabelo.

Não me peças mais canções
Porque a cantar vou sofrendo;
Sou como as velas do altar
Que dão luz e vão morrendo.

Se a minha voz conseguisse
Dissuadir essa frieza
E a tua boca sorrisse!
Mas sóbria por natureza

Não a posso renovar
E o brilho vai-se perdendo…
- Sou como as velas do altar
Que dão luz e vão morrendo.

António Botto

Lido por António D. Lima

1 comentário:

  1. António Botto tem poemas lindíssimos, Talvez tenha sido inveja de alguém que não consegue fazer poemas tão belos como este e outros poetas. Tal como o cacarejar das galinhas não deixaram falar deste e de outros poetas tais como Pedro Homem de Melo, Ary dos Santos, Eugénio de Andrade, etc., etc. Todos estes e outros sempre foram renegados pelo regime em vigor. A galinha que cacarejou nem para arroz de cabidela presta. Abraços com muita estima à GALERIA

    ResponderEliminar