quarta-feira, 12 de julho de 2017

MATA-ME AS PONTAS DOS DEDOS


MATA-ME AS PONTAS DOS DEDOS

Mata-me as pontas dos dedos,
os anéis e as unhas podres.
Desenha-me os pulsos,
as mãos dóceis, e os ombros poderosos.
Um dia,
o corpo calçado nas tabelas das noites
acordará nu,
procurará cetins,
lantejoulas
e aromas de cedros
cortados à madrugada.
A matinal luz orvalhará,
pintada de roxo,
as giestas e os arco-íris,
como quem se sabe senhora
dos destinos e desatinos.

Pintar-se-á o ar límpido da manhã,
lavar-se-á o céu,
a pele
e a alma,
assim como quem sabe do tempo
a falta de tempo.

Goreti Dias
in “singularidades & etc.”
lido por Isabel Moura

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