FOME E SILÊNCIO!
Silenciosa
a fome chega miudinha
como chuva invisível pela noite.
De madrugada agitam-se os silêncios
a dor torna-se audível
nos pingos que encharcam os ossos
embrulhados na esquina.
Ao dobrá-la, olhos indiferentes apontam: Olha ali, vês?
um sem-abrigo dorme na esquina, dizem e continuam nos passos
apressados por entre pingos
imunes ao silêncio da fome.
É a paisagem urbana e multicor
de um país assimétrico,
que se esconde por detrás do silêncio da noite.
Pela manhã
o vento terá varrido a dor da madrugada
e a chuva miudinha
será apenas chuva miudinha
e voltará à condição de molha tolos
que em correria
caminham loucamente para o silêncio da fome.
O dia aparece de novo risonho
e as esquinas serão apenas esquinas
que ligam ruas e sorrisos,
mas antes da chuva de verão chegar
haverá esquinas de dor a dobrar
e com elas
os pingos da fome
esperam rostos outrora sorridentes
agora,
escondidos na vergonha
do silêncio da fome.
Silenciosa
a chuva há-de chegar miudinha
como a fome invisível pela madrugada
e ao dobrar da esquina
já não haverá olhos risonhos e indiferentes!
______________________________________________________
MENINO DO ARCO – poesia &prosa no outono da vida!
Angelino Santos Silva
Sem comentários:
Enviar um comentário