quinta-feira, 27 de abril de 2017

FOME E SILÊNCIO!


FOME E SILÊNCIO!

Silenciosa
a fome chega miudinha
como chuva invisível pela noite.

De madrugada agitam-se os silêncios
a dor torna-se audível
nos pingos que encharcam os ossos
embrulhados na esquina.

Ao dobrá-la, olhos indiferentes apontam: Olha ali, vês?
um sem-abrigo dorme na esquina, dizem e continuam nos passos apressados por entre pingos
imunes ao silêncio da fome.

É a paisagem urbana e multicor
de um país assimétrico,
que se esconde por detrás do silêncio da noite.

Pela manhã
o vento terá varrido a dor da madrugada
e a chuva miudinha
será apenas chuva miudinha
e voltará à condição de molha tolos
que em correria
caminham loucamente para o silêncio da fome.
O dia aparece de novo risonho
e as esquinas serão apenas esquinas
que ligam ruas e sorrisos,
mas antes da chuva de verão chegar
haverá esquinas de dor a dobrar
e com elas
os pingos da fome
esperam rostos outrora sorridentes
agora,
escondidos na vergonha
do silêncio da fome.

Silenciosa
a chuva há-de chegar miudinha
como a fome invisível pela madrugada
e ao dobrar da esquina
já não haverá olhos risonhos e indiferentes!

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MENINO DO ARCO – poesia &prosa no outono da vida!
Angelino Santos Silva

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