quarta-feira, 29 de março de 2017

SORRISOS DE PAPEL


SORRISOS DE PAPEL

Mais simples
que minhas palavras,
é este meu sorriso manso,
descalço, vestido de chita,
preso por algumas pregas,
marcas fiéis da vida,
uma hora feia, outra bonita.

Mais simples
que meu olhar sem pressa,
é o meu sorriso ameno,
seja lá o que for que a vida
ainda tenha reservado para mim
nunca deixará de ser assim,
limpo e sereno.

Se para marcar presença
tivesse que usar sorriso fulgurante,
vestido de lantejoulas e cetim,
eu, não seria mais eu
e a partir desse instante,
seria o eco da minha gargalhada,
rindo-se de mim.

Mas pelo esforço e pela ousadia
que vivam os sorrisos estudados,
ensaiados até à exaustão,
projectos de uma miragem vã,
todos iguais, sorrisos de papel,
onde se lê dor e frustração,
verdade? alegria? neles não há!
   …

Alice Queiroz
in “Jardim de Afectos”

lido por Ana Ferreira

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