sábado, 25 de março de 2017

RAPARIGA DESCALÇA


RAPARIGA DESCALÇA

Chove. Uma rapariga desce a rua.
Os seus pés descalços são formosos.
São formosos e leves: o corpo alto
parte dali, e nunca se desprende.

A chuva em abril tem o sabor do sol:
cada gota recente canta na folhagem.
O dia é um jogo inocente de luzes,
de crianças ou beijos, de fragatas.

Uma gaivota passa nos meus olhos.
E a rapariga — os seus formosos pés –
canta, corre, voa, é brisa, ao ver
o mar tão próximo e tão branco.

Eugénio de Andrade

Lido por Beatriz Maia

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