sexta-feira, 24 de março de 2017

Onde estão em ti os conceitos os movimentos dialéticos


Onde estão em ti os conceitos os movimentos dialéticos
E num momento o movimento eterno... é etéreo
Na tua pintura densa ouço Arvo Pärt
Na tua pintura ouço a Canção da Terra de Gustav Mahler
E vejo campos de trigo de batatas e tantos pobres
Tudo isto como se olhasse Millet
Quando os teus olhos acendem a noite com lágrimas
Salgadas deste mar com ondas rendilhadas nasce a cor
A tua pintura tem o cheiro à terra mãe
Buganvílias adornam teu rosto como uma Deusa Grega
As tuas flores amarelas Van Gogh são mulheres em solidão
As tuas flores têm o perfume inebriante do sândalo
E dor de ser flor é essa a tua força
Divinamente frágil faz em ti crescer a paixão pela vida
Os teus olhos dão luz no escuro da noite mesmo sendo dia
Tu és a raiz da árvore que me prende à vida
Assim tu lá estás antes de estares lá e és luz
Tu és a Aurora do meu dia e fico extasiada por ti em ti
Tu és o esplendor na cor e a tua mão livre agarra o mar
E és tudo o que não cabe numa Mulher
Transfiguras o amarelo em espiga sol e desejo
E a tua mão solta-se e a tua pintura foge pela tela fora
E a tua mão tão livre agarra o olhar
Olhar das gentes das pedras do sol da chuva
Dos rios que fogem e voltam a ti e assim
Os Deuses te acompanham
E a poesia feita gesto
E a poesia feita cor nasce em ti feita Mulher
Sara Uva

Aurora Gaia

in “Antologia de poetas lusófonos VI”

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