NÃO POSSO PERDER-TE COMO TE CONTEI...
Vem amor assim de
mansinho noite dentro e nada receies...
Olha que o tempo, sempre
tão voraz, não leva no seu colo
o amor infinito que
germina como o roseiral na luz solene
e fecunda da Primavera,
nem colhe desaconchegado
os matizes com que teço
as pérolas que tenho para te dar...
A lua olha-me opalina e,
no silêncio da noite
ouvindo a voz rouca do
vasto mar, eu sei que não posso adiar
eu sei que é inútil
render-me à força da razão que me diz
não dever querer que
venhas para comigo ficar...
Mas olha que eu não posso
adiar a tua voz
olha que o meu rosto e as
minhas mãos já se desbotaram
porque conhecem o rumor
da tempestade
e sabem como já perdi um
outro amor
e como fora causa da sua
perda o ter achado
que podia suspender o
tempo no seu enlear
e ficar assim na espera
do eterno regressar...
Vem, eu não posso
perder-te como te contei...
Eu já teci na minha carne
atalhos por onde quis partir
levar o teu nome a um
outro lugar, eu já quis esconder
na areia molhada os meus
dedos para que escrevessem
um outro nome que fizesse
no meu coração o mesmo rendilhar
mas foi inútil porque em
tudo havia o vento embalar o teu nome
como fazem as sereias no
seu encantar e foi inútil
porque conheço a voz do
teu nome, a força do amar...
Acilda Almeida
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