sábado, 25 de março de 2017

NÃO POSSO PERDER-TE COMO TE CONTEI...


NÃO POSSO PERDER-TE COMO TE CONTEI...

Vem amor assim de mansinho noite dentro e nada receies...
Olha que o tempo, sempre tão voraz, não leva no seu colo
o amor infinito que germina como o roseiral na luz solene
e fecunda da Primavera, nem colhe desaconchegado
os matizes com que teço as pérolas que tenho para te dar...

A lua olha-me opalina e, no silêncio da noite
ouvindo a voz rouca do vasto mar, eu sei que não posso adiar
eu sei que é inútil render-me à força da razão que me diz
não dever querer que venhas para comigo ficar...
Mas olha que eu não posso adiar a tua voz
olha que o meu rosto e as minhas mãos já se desbotaram
porque conhecem o rumor da tempestade
e sabem como já perdi um outro amor
e como fora causa da sua perda o ter achado
que podia suspender o tempo no seu enlear
e ficar assim na espera do eterno regressar...

Vem, eu não posso perder-te como te contei...
Eu já teci na minha carne atalhos por onde quis partir
levar o teu nome a um outro lugar, eu já quis esconder
na areia molhada os meus dedos para que escrevessem
um outro nome que fizesse no meu coração o mesmo rendilhar
mas foi inútil porque em tudo havia o vento embalar o teu nome
como fazem as sereias no seu encantar e foi inútil
porque conheço a voz do teu nome, a força do amar...


Acilda Almeida

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