ENCONTREI-TE, PAI!
Os trilhos da minha
caminhada
conduziram os meus passos
ao monte atrás da nossa
casa.
Pensava em ti, quando
olhei e vi,
o que tomei por um
devaneio...
Havia, no caminho ermo,
uma estranha mas doce
melodia
entoada por dezenas de
abelhas
que se deliciavam num
jardim,
de belas ervilhas de
cheiro.
Inimaginável por mim!
O fascínio pôs-me de
joelhos!
Tal era o silêncio que
silenciou
a minha própria voz.
Então de repente Pai,
aconteceu,
tu estavas ali, a olhar
para nós!
Levou-me bem longe o
devaneio,
quando plantavas às
escondidas
com o maior desvelo e
cuidado,
bardos de ervilhas de
cheiro
para mais tarde me
surpreender
ao ver-te chegar abraçado
a um belo ramo perfumado.
Nunca mais vi, nem
semeei,
dessas flores no nosso
jardim!
Quem as teria plantado ali,
para mirn?
Só tu podias ser!
Mandaste-as no vento!
Foram regadas talvez com
as tuas lágrimas
que o sal transformou num
aroma intenso,
para apaziguar as minhas mágoas
e perfumar o meu vazio
imenso.
Entendi Pai, que onde
estás,
também existe a primavera
que há sementes e memória
e que o vento ficou à
espera
de as semear no devido
momento,
para que pudesse contar a
nossa história.
Está contada!
Fica bem!
Pai, obrigada!
Amém.
Alice Queiroz
in “Jardim de Afectos”
lido por Isabel Moura
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