quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

O POUCO QUE SEI E QUE SOU...


O POUCO QUE SEI E QUE SOU...

Não vão comigo as minhas estórias
As minhas estórias... minhas!
como se elas fossem minhas...
São apenas retalhos de vidas, são memórias
que guardei num ninho vazio de andorinhas.
São lágrimas sufocadas de sofridos catraios
São gargalhadas ressequidas, tristes e velhas
São noites medonhas, iluminadas por raios
São chapas e tábuas que sonham ser telhas
São luto e lutas eternamente adiadas
São sonhos mortos na hora de nascer
São caminhos com saídas por romper
São um povo que devia ter renascido
depois de abril ser nome e ter crescido
As estórias que vivi, sem serem minhas,
são o vôo de regresso das andorinhas...
A flor do alecrim que desafia o nevoeiro
e a vida retalhada que amo por inteiro
São a alma feita de pequenos nadas
e a esperança d'inventar novas madrugadas
Não! Não vou levar comigo a fonte, o chão e a raiz
o sol, a flor e a semente que me fizeram feliz
Quero partilhar convosco o que o Povo me ensinou
e deixar-vos, a todos, o pouco que sei e o que sou.

Lourdes dos Anjos
in “Colectânea Galeria Vieira Portuense 2014”

lido por Lourdes Alegria

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