O DINHEIRO
Este é o deus actual
o verdadeiro mestre
o que governa o mundo sem complacência
O que urde a teia que enreda os sonhos
o anjo metálico e frio da violência
Este é o deus maior, a luz da vida
por quem se vendem mães, e irmãs se dão
O que suborna em fúria desmedida
a própria consciência e a razão
Ele é a corda que pomos ao pescoço
a mão que procuramos e mais brilha
Este é o deus que ao pequeno almoço
nos liberta e persegue, e nos humilha
Este é o deus do mundo, o implacável dono
Senhor que a nossa alma tanto inflama
Por quem nos arrastamos de joelhos
E rastejamos em promiscua lama
Este é o deus que manda em tudo, e gere
os negócios da guerra e os abismos da paz
as nossas almas todas e o nosso coração
É este o deus que nos amotina e fere
Este é o grande deus a quem rezamos todos
sem excepção
Fernando Campos de Castro
in “Inquietudes e outras atitudes”
Isabel Moura
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