sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

DESILUSÃO


DESILUSÃO

No coração ouvi o rumor dos teus passos...
Eras tu que regressavas!

Limpei o último grão de poeira inexistente;
Enchi a mesa com as tuas iguarias prediletas,
Sobre a toalha da Páscoa.
Sabes... aquela bordada pela avó!
Flori a jarra com flores silvestres:
Não esqueci as campainhas brancas, de que tanto gostas!
E os pampilos amarelos...

E corri... Corri a vestir a blusa de Festa!
Sabes... aquela de renda branca,
A que chamava a blusa de noivar...
Dei um toque no cabelo,
Pus uma gota de perfume
Entre os seios fartos
E fui para a janela esperar-te,
Com riso no olhar e nos lábios, beijos mágicos para te dar...

Mas... não te vi, nem ouvi mais o rumor dos teus passos!
A rua estava deserta, solitária...
Ah! E não ouvi a chave a dar a volta no trinco da porta!
E não entraste... Não subiste as escadas!

Ainda estou à tua espera... solitária, como a rua solitária!

As flores na jarra murcharam
E a blusa de renda branca, feita de espuma do mar,
Com o tempo, cansada de esperar,
Ficou pálida e a cheirar a rosas desfolhadas...

Irene Costa

in “Colectânea Galeria Vieira Portuense 2016”

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