terça-feira, 22 de novembro de 2016

Colectânea Galeria Vieira Portuense 2016




PREFÁCIO

Mais ao menos onde hoje começa a Rua dos Clérigos, na embocadura do actual Largo dos Lóios, existia rasgado na muralha Fernandina, um postigo denominado das Hortas, ou de Santo Elói, e nele principiava um pouco em diagonal, para a Rua do Souto (Caldeireiros) uma rua que se chamava de Mendo Afonso - sujeito que não sabemos quem fosse. A rua de Mendo Afonso, segundo Horácio Marçal, desapareceu na 1ª década do séc. XVII, abrindo-se no lugar dela um Terreiro que junto ao rossio já existente deu origem ao L. dos Lóios de hoje. Na planta de Costa Lima denomina-se Rua de santo Elói, a parte mais estreita do largo, entre as Ruas de Trindade Coelho e dos Caldeireiros, e que talvez seja último vestígio da velha Rua de Mendo Afonso ou Postigo de Men Afonso. (Toponímia Portuense de Andrea da Cunha e Freitas)
Aqui, no coração do Porto, fica a galeria Vieira Portuense. E de onde veio este nome?
Francisco Vieira, escolheu o nome artístico de Vieira Portuense foi um pintor português, um dos introdutores do neoclassicismo na pintura portuguesa.

Um dos maiores pintores da sua geração, ocupando lugar destacado juntamente com Domingos Sequeira, Francisco Vieira Portuense, terá aprendido a pintar com o pai, dedicado à pintura de paisagens a par do ofício como drogueiro, e com os pintores João Glama Strobërle (1708-1792) e Jean Pillment (1728-1808). Presume-se ainda que terá frequentado a Aula de Debuxo e Desenho do Porto, antes de rumar a Lisboa, onde frequentou a Casa Pia e a Aula Régia de Desenho. A seguir prosseguiu os estudos em Roma, financiado pela família e pela Feitoria Inglesa ou, muito provavelmente, pela Companhia Geral de Agricultura e das Vinhas do Alto Douro. Viajou por Itália, Alemanha, Áustria e Inglaterra antes de regressar a Portugal em 1800.

Contraiu tuberculose e mudou-se para a Madeira, onde morreu com apenas 39 anos.

Aqui, no coração do PORTO, nasceu uma galeria que herdou este nome GRANDE. A escolha é explicada desta maneira, pelos responsáveis da galeria:
"Não foi sem ousadia que decidimos invocar o nome de Vieira Portuense para o apadrinhamento desta galeria. Figura ímpar, entre os grandes mestres da pintura setecentista, Vieira Portuense é um exemplo a seguir pela persistência da sua actividade artística e pelo estudo aturado que o levou a todos os lugares da Europa onde a arte se sacralizava, e fez dele o maior pintor do Século XVIII, com méritos reconhecidos em Itália, Alemanha e Inglaterra, bem como em Portugal, onde D. João VI o chamou à Corte, nomeando-o primeiro pintor da Real Câmara. Para nós almejamos tão somente qualquer reflexo do brilho imenso do sagrado Mestre, como na caverna de Platão, a resgatar-nos da escuridão do nosso apagamento. Para os nossos artistas, pretendemos um patrono à altura dos seus talentos e das suas ambições."

Aqui, no coração do Porto, numa casa de artes que honra a cidade, na GALERIA VIEIRA PORTUENSE, abrem-se as portas á poesia no terceiro sábado de cada mês, pelas 16 horas.

Por tudo o que ficou dito, a responsabilidade cultural desta casa é por AQUI... grande, MUITO GRANDE.

Por isso, por Aqui, ouvem-se as palavras de poetas que da lei da morte se foram libertando.

Aqui, saboreamos SOPHIA DE MELLO BREYNER:

Nesta hora limpa de verdade,
é preciso que o povo regresse do seu longo exílio
e lhe seja proposta uma verdade inteira e não meia verdade
Meia verdade é como habitar meio quarto
ganhar meio salário
como só ter direito
a metade da vida
O demagogo diz da verdade, a metade
e o resto joga com habilidade
porque pensa que o povo só pensa metade
porque pensa que o povo não percebe nem sabe
...
Aqui partilhamos a poesia de ARY DOS SANTOS:
...
Entre os animais falantes
o poeta é o que mais
diz coisas interessantes
aos colegas racionais
Diz-lhes que o espaço vazio
está todo por alugar
e que há poemas vagos
de inspiração limitada
em prédios de antologia
bem situados nas letras
com duas assoalhadas
e porteira analfabeta
que serve de vazadouro
é bem falante e discreta
...
Assim disfarça a miséria
fingindo que tem fartura
que a poesia é coisa séria
e se não for deletéria
poderá ser mordedura
que lhe inocule no sangue
não só veneno de cobra
mas três cruzes de lirismo
que virão minar-lhe a obra
e tolher de reumatismo
a pena com que depena
os patos de modernismo
que podem valer-lhe a pena

Aqui se dá voz a MÁRIO PINTO DE ANDRADE:

Tenho mais passado do que futuro
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando os seus lugares, talentos e sorte
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas
que apesar da sua idade cronológica... são imaturas
...
O essencial faz a vida valer a pena.
E, para mim, basta-me o essencial.

Aqui encontramos o amigo que , ao longo dos seus 80 anos de vida , publicou 30 livros e continua humilde e nobre, leal e solidário FERNANDO MORAIS
...
Hoje,
porque foi só hoje que isso aconteceu,
ninguém fugia pelas ruas
o ambiente respirava muito leve
transparências de cobre e de argila
e as casa riam-se pelas frestas
das janelas
O tom era de azul enchendo as avenidas
e o bombeiro Guilherme na praça
de seu nome
tinha três ciscos de canela
no bigode farto.

E é também AQUI, NO CORAÇÃO DO PORTO que temos ainda a voz da nossa FERNANDA CARDOSO com mais uns "trocos" acima dos 90, que nos acorda lágrimas ou gargalhadas se diz A MÃE de EUGÉNIO DE ANDRADE ou A MÃEZINHA de GEDEÃO.
E é AQUI que descansa um coração real oferecido a este POVO TRIPEIRO.

PORTO, CORAÇÃO REAL
Um rei deu seu coração
A este povo tripeiro
Para dizer que o amor
No Porto, é mais verdadeiro

O Porto é verde e cinzento
E o seu povo não se cansa
De mostrar aos do poder
Que cinza é LUTA e ESPERANÇA

Antes quebrar que torcer
É o lema que o Porto tem
Aqui, a palavra medo
Não mete medo a ninguém

Somos alma que se vê
Temos vida que se sente
Somos humildes mas damos
PÃO E PAZ A TODA A GENTE.

in O PORTO NAS NOSSAS MÃOS

E por aqui vamos continuar a dar voz a este PORTO levando a POESIA até outras paragens onde a cultura tenha vida depois de ABRIL ter aberto algumas portas.
E por aqui me fico, deixando um sincero agradecimento ao Dr. Agostinho Costa e a todos os seus colaboradores que tornam possível esta seara de artes aberta a quantos se atrevem a colher e partilhar a cultura com humildade e generosas mãos... AQUI, NO CORAÇÃO DO PORTO.

Fernanda Cardoso e Lourdes dos Anjos
PORTO, 1 de OUTUBRO de 2016

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