terça-feira, 27 de setembro de 2016

VOO DE GAIVOTA


VOO DE GAIVOTA

Uma gaivota alva e cinza, em voo alado, rompe a fina camada de neblina antes de pousar no coração da ponte. A urbe ainda dorme. Insinuam-se os primeiros veios de luz que fazem emergir o rendilhado da ponte e o casario ern abstracto; o rio flui, semi-adorrnecido - silêncio peregrino. Há uma janela de denso nevoeiro que, beijada pelo sol, liberta o azul Porto — ninguém fica indiferente aos esguios e imponentes candeeiros, cabines telefónicas com motivos pictóricos, paredes de monumentos em azulejo, granito de seda temperado de sol c burilado pelo vento...
Tela pintada por Vieira da Silva, poema de Eugénio de Andrade e Sophia de Mello Breyner, voz irreverente de Pedro Abrunhosa... o Porto vai beber o perfume à bela Rua das Flores; a Miguel Bombarda, a arte que se tece, entretece e acontece.
A gaivota contempla a cidade - sem pressa de voltar ao mar; quando a fome chegar vai, ameaçadora, subtrair a comida às pombas.

José Efe

lido por Alzira Santos

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