VOO DE GAIVOTA
Uma gaivota alva e
cinza, em voo alado, rompe a fina camada de neblina antes de pousar no coração
da ponte. A urbe ainda dorme. Insinuam-se os primeiros veios de luz que fazem
emergir o rendilhado da ponte e o casario ern abstracto; o rio flui,
semi-adorrnecido - silêncio peregrino. Há uma janela de denso nevoeiro que,
beijada pelo sol, liberta o azul Porto — ninguém fica indiferente aos esguios e
imponentes candeeiros, cabines telefónicas com motivos pictóricos, paredes de
monumentos em azulejo, granito de seda temperado de sol c burilado pelo
vento...
Tela pintada por
Vieira da Silva, poema de Eugénio de Andrade e Sophia de Mello Breyner, voz
irreverente de Pedro Abrunhosa... o Porto vai beber o perfume à bela Rua das
Flores; a Miguel Bombarda, a arte que se tece, entretece e acontece.
A gaivota contempla
a cidade - sem pressa de voltar ao mar; quando a fome chegar vai, ameaçadora,
subtrair a comida às pombas.
José Efe
lido por Alzira Santos
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