TINHAS
SÓ DEZOITO ANOS
Tinhas só dezoito anos e eu já tinha muitos mais
Tinhas vida e mocidade e eu a idade dos teus pais
Tinhas só dezoito anos e eu já tinha muitos mais
Trazias quando vieste um mar alto de ilusões
E eu já tinha naufragado o meu barco de emoções
Tinha rugas e desgostos, quebranto, decrepitude
E tu tão resplandecente de paixão e juventude
Trazias nos olhos mundos de viagens e lugares
E eu cego a ver o mundo do porquê de tu chegares
Trazias no rosto o sol que há num rosto de menina
E eu um rosto cansado como o dobrar de uma esquina
Tinhas só dezoito anos e eu já tinha muitos mais
Tinhas vida e mocidade e eu a idade dos teus pais
Tinhas só dezoito anos e eu já tinha muitos mais
Tinhas mãos de seda fina que ninguém tinha tocado
Eu tinha as minhas lavradas por desgostos do passado
Tinhas tanto para dar e outro tanto a receber
E eu só tinha p'ra te dar todo o meu envelhecer
Tinhas tudo o que é preciso, tudo quanto um homem quer
Tinhas ardendo a paixão que há num corpo de mulher
Tinhas só dezoito anos, dezoito fontes de vida
E eu a sede do desejo sob a carne amolecida
Tinhas só dezoito anos e eu já tinha muitos mais
Tinhas vida e mocidade e eu a idade dos teus pais
Tinhas só dezoito anos e eu já tinha muitos mais
“Inquietudes e outras atitudes”
poesia de Fernando Campos de Castro
lido por Beatriz Maia
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