A MÃO ESQUECIDA
Estávamos a jogar com riscos
de lápis no papel
sinais curvos rectos, partidos
helicoidais, de face
e de costas
até que, de repente, me apercebi
que esses sinais eram letras
e que essas letras
podiam
formar palavras
foi assim que surgiu este poema
feito de um acaso
num qualquer tempo perdido
da alma ensimesmada
estou agora a jogar com palavras
à espera da estrela da manhã
enquanto o resto do corpo
se espreguiça
e vejo e sinto que as casas se encostam
timidamente
umas às outras
com medo de escorregar
e vejo e sinto
como este dia faz sapateado
e improvisa o seu discurso
às escondidas de uma nuvem
que se esqueceu de voar
e vejo e sinto como útil
quase precioso, haver palavras
feitas de letras e como as letras
são riscos de um lápis maestro
na sinfónica forma universal
do seu dizer
E a mão que tudo isso faz
é a primeira a ser esquecida!
Fernando Morais
in
Ao Povo do Mundo
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