MEU GALOPE É EM FRENTE
Direis que não é poesia
e a mim que importa?
Eu canto porque a voz
nasce e tem de
libertar-se.
E grito porque respondo
às lanças que me espectam
e aos braços que me
chamam,
E porque, dia e noite,
minhas mãos e
meus olhos,
por estranhas
telegrafias,
dos cantos mais ignotos
e das linhas perdidas
e dos campos esquecidos
e dos lagos remotos,
e dos montes,
recebem longas mensagens
e
comunicações:
para que grite e cante.
O meu grito e meu canto é
a voz de
milhões.
Por isso que me importa?
Eu canto e cantarei o que
tiver a cantar
e grito e gritarei o que
tiver a gritar
e falo e falarei o que
tiver a falar.
Direis que não é poesia.
E a mim que importa
se eu estou aqui apenas
para escancarar
a porta
e derrubar os muros?
E a mim que importa
se vós sois afinal o que
hei-de ultrapassar
e esmigalhar
em nome
de todos os futuros?
Eu sigo e seguirei.
como um doido ou um anjo,
obstinado e heróico a
caminho de nós
em palavras e acções
por todos os vendavais
e temporais
e multidões
nos cantos mais ignotos
e nas linhas perdidas
e nos campos esquecidos
e nos lagos remotos
e nos montes
- por terra, mar e ar.
Direis que não é poesia
E a mim que importa!
Convosco ou não, meu
galope é em
frente.
Pertenço a outra raça, a
outro mundo, a
outra gente.
É andar, é andar!
Mário Dionísio
Lido por Alice Santos
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