terça-feira, 29 de março de 2016

MÃE


MÃE

sabes, mãe, quando me dizias palavras ternas que afastavam
os pesadelos das minhas noites claras... eu conseguia ser feliz,
acreditava que o mundo era um arco-íris movido pelo sopro doce
de um qualquer deus perdido na concha das tuas mãos.
só tu conseguias encher de fios de ternura os cabelos assustados
da minha nuca em movimento e trazer até aos meus olhos pesados
a música de um son(h)o nunca sentido.

sabes, mãe, crescer traz pregos agarrados aos meus cinco sentidos e eu
não quero olhar e descobrir que o mundo se afundou
no líquido amniótico da lua.
ouço os gritos dos gatos que nascem no quintal e sei que têm medo,
um medo atroz dos fantasmas negros que pintam a solidão fria da terra
que os cobre, eu sei que tu sabes que a morte tem cheiro,
um cheiro amargo enroscado para sempre ao útero da vida,
mas baralhas a sorte e dás-me sempre o trunfo com o paladar mais
doce, do beijo mais doce, que já recebi.

sabes, mãe, foi com a soma das tuas carícias que o mundo começou a
habitar em mim e as palavras se tornaram pérolas de chuva dourada.
sabes, MAE, hoje já não te vejo como uma criança, mas como mãe...
e, por isso ainda te amo mais!

Carla Marques
in “O Pecado somos Nós”
lido por Irene Silva

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