quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

OS CORVOS


OS CORVOS

Vai negro o céu da minha aldeia
tão negro como o bando de corvos que esvoaça
e debica aqui, ali, além
ou em qualquer lugar
que reluza a oiro ou cheire a vintém.

E no entanto…
o sol nasce todos os dias
a fome cresce
o desespero cresce
a raiva cresce
e a vida prossegue como se nada fosse
e nada acontece à gula da maralha.

Vai negro o céu da minha aldeia
tão negro como o céu do meu país
onde o bando se banqueteia
como se fosse nero enchendo a pança
depois de incendiar Roma

E no entanto…
criança há de barriga colada a caminho da escola;
jovem há que desespera com futuro negro
tão negro como os corvos
que enegrecem o céu do meu país;
velho há que leva metade da receita
tentando prolongar o olhar triste
tão triste como a fome do menino
a caminho da escola

E no entanto…
a vida prossegue como se nada fosse;
cresce a canalha
engorda a canalha
e nada acontece à gula da maralha:
os corvos crescem;
os corvos engordam;
os corvos queimam o meu país
e tudo se passa nesta desgraça
e nada acontece às mãos de quem trabalha
... e morre infeliz.

Eu sou de um país
onde o céu é negro
E no entanto…
o sol nasce todos os dias!


Angelino Silva

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