quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O BAILADOR DE FANDANGO


O BAILADOR DE FANDANGO

Sua canção fora a gota.
Sua dança fora o vira.
Chamavam-lhe «o fandangueiro».
Mas seu nome verdadeiro
Quando bailava, bailava...
Não era nome de cravo
Nem era nome de rosa:

Era o de flor misteriosa
Que se esfolhava, esfolhava...
E havia um cristal na vista
E havia um cristal no ar,
Quando aquele fandanguista
Se demorava a bailar.
E havia um cristal no vento
E havia um cristal no mar
E havia no pensamento
Uma flor por esfolhar...
Fandangueiro! Fandangueiro!
Nem sei que nome lhe dar...
Tinham seus braços, erguidos,
Não sei que ignotos sentidos...
Jeitos de asa pelo ar?...
Quando bailava, bailava,
Não era folha de cravo
Nem era folha de rosa,
Era uma flor, misteriosa,
Que se esfolhava, esfolhava...

Domingos Enes Pereira,
Do lugar de Montedor,
O bailador de fandango
Era aquele bailador!
Vinham moças de Areosa
Para com ele bailar.
E vinham moças de Afife
Para com ele bailar.
Então as sombras dos corpos
Como chamas traiçoeiras
Entrelaçavam-se... E a dança
Cobria o chão de fogueiras!
E as sombras formavam sebe,
O movimento as florira:
O sonho... a noite... o desejo...
Ai! belezas da mentira!
E as sombras entrelaçavam-se.
Os corpos, ninguém sabia
Se eram corpos, se eram sombras
Se era o amor que se escondia...

Pedro Homem de Melo

lido por Etelvina Martins de Sá

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