quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

SENTIR


SENTIR

Viver somente!
Respirar
E sentir no corpo
Este sol bem quente!
Sentir o vento,
Ouvir as aves
E poder cheirar
Todos estes odores suaves!

Ver ao longe o casario,
O milho dobrado para o rio
E ao olhar em frente
Ver desfazer-se no céu
Um carreiro de nuvem transparente,
Como se fora um vaporoso véu!

O vento fazendo ondular o milho
Como uma mãe
Que embala o filho,
Sussurrando docemente
Que o ama e lhe quer bem
E deseja ardentemente
Que seja feliz como ninguém!

Viver somente!
Se for possível, não pensar!
Sentir o coração ausente,
Esquecido até de te amar!

Apreciar toda esta maravilha
Que se estende pela veiga verdejante!
Ver com a alma a mãe fazendo a trança à filha
Que saltita como um pardal contente!

Viver, viver somente!
Para bem longe
Preocupações e cuidados!
Para bem longe
Ilusões e lembranças dos seres amados!

Correr, correr distraído
Pelo monte, pela campina
Colhendo as flores da vida,
Esquecida da própria sina!

Caminhar, caminhar indiferente
À chuva, ao vento
Ao sol ardente.
Cortando os elos que a ligam à corrente
Insensível às dores do tempo inclemente!

Irene Costa

in “Silêncio Branco”

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