quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

POEMA MAIOR


POEMA MAIOR

Vou subir e sentar-me ali. Ali nas escadas do tempo
e nelas esperar que o tempo passe.
Não é algo que estranhe ou me inquiete:
Esperar tem sido o meu fado
e sempre construí o futuro
subindo escadas no passado.
Desta vez,
não me move desejo especial, como por ex.:
esperar pela sorte grande,
ambicionar o poema que me torne imortal,
ou esperar pelo sol que me há-de iluminar
nas longas incertezas dos meus versos.
No tempo que já se foi,
e nas esperanças que se esgotaram,
a espera fez-se por escada de sobe e desce
e os sonhos foram atirados ao futuro
como semente à terra,
esperando que do tempo e verso
brotasse um poema maior.

Desta vez,
não vou esperar pelo acaso da sorte:
Vou esperar por ti.
Esperar que os teus passos se juntem aos meus
e caminhem lado a lado no mesmo abraço, no mesmo norte.
Talvez chova
e os teus passos se percam na lama,
mas continuarei sentado até que a primavera se solte
e a inspiração emprenhe o meu poema.
Qd estiveres próxima, saberei que és tu,
e ainda que não conheça os teus passos,
puxar-te-ei para os meus olhos
como a luz que ilumina os meus versos,
e nas mãos guardarei o tempo
para que espera e verso não definhem
e fiquemos abraçados no meu poema.
Qdo estiveres nos meus braços falaremos de amor.
De amores; dos perdidos no tempo
e do tempo perdido nos amores
e com o tempo guardado,
falaremos dos poemas que nunca fizemos.
Falaremos dos versos impossíveis,
do halo que jamais iluminou o nosso sorriso
e das estrelas que se apagaram
qdo o tempo de espera
era de esperança sem brilho.

Talvez chova,
e a terra se torne fértil e generosa
e liberte o aroma que há no teu corpo
e dele renasça a minha inspiração;
Com o tempo seguro na mão,
aguardaremos a chegada da primavera:
eu no teu abraço e tu no meu amor
e nesta última e tardia espera
talvez brote uma rima, um verso e uma flor.

Se assim for,
escreveremos O derradeiro poema
e dele faremos O nosso poema maior.

Angelino Santos Silva

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