quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

EU, O SEM ABRIGO


EU, O SEM ABRIGO

A noite está fria...gelada
a chuva miudinha que tomba docemente
desliza entre as pedras da calçada
O sol esconde-se por detrás do denso nevoeiro
e, como se ficasse envergonhado
apaga-se o tímido candeeiro.
A calçada fica ás escuras
Na entrada de um velho prédio que ameaça ruir
alguém fez aí a sua casa
o seu quarto de dormir.
Apagou-se o candeeiro...são horas de abalar
ao contrário da chamada vida normal
que apaga a luz para se deitar!
Levanta-se e arruma os seus haveres
um cobertor amarelo, sujo e já rasgado
uma caixa de cartão onde põe tudo arrumado
uma velha mochila...de marca
e uma ponta de cigarro!
O pouco que o seu corpo veste
foi o seu agasalho durante a noite
Está tudo húmido, mollhado...
Enfia uns velhos sapatos rotos
e umas luvas sem dedos
de tom avermelhado.
As pessoas começam o seu dia
sempre em grande correria
Os guarda chuvas abertos e de várias cores
fazem lembrar nenúfares
no grande lago da avenida
Lentamente, como quem pisa algodão
ele inicia o seu caminho
evitando tocar na multidão!
A roupa que veste durante o dia
é a mesma que durante a noite
lhe serve de agasalho
e ele não quer que ninguém leve
o seu cheiro de pobreza para o trabalho
Desce a calçada e pára à porta de um bar
Á surrapa, sem ninguém ver
apanha uma varona ainda a arder
e lava-a á boca para fumar!
Encosta-se num lugar que não incomode
e ali fica parado ...
para sentir o calor de um ar condicionado.
É assim o dia de um sem abrigo
que dorme na porta de um prédio abandonado
e se sente cada dia, cada vez mais rejeitado.
ESTA É A SOCIEDADE EM QUE VIVEMOS
A SOCIEDADE ONDE NÃO VEMOS
QUEM VAI MORRENDO AO NOSSO LADO...

FERNANDO SILVA
Lido por Lourdes dos Anjos

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