TOMA-ME
Toma-me. A tua boca de
linho sobre a minha boca
Austera. Toma-me AGORA,
ANTES
Antes que a carnadura se
desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha
morte, toma-me
Crava a tua mão, respira
meu sopro, deglute
Em cadência minha escura agonia.
Tempo do corpo este
tempo, da fome
Do de dentro. Corpo se
conhecendo, lento,
Um sol de diamante
alimentando o ventre,
O leite da tua carne, a
minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo
futuro urdindo
Urdindo a grande teia.
Sobre nós a vida
Ávida se derramando.
Cíclica. Escorrendo.
Te descobres vivo sob um
jogo novo.
Te ordenas. E eu
deliquescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da
terra, devo
Devo gritar a minha
palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um
rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas
ao teu lado me estendo
Imensa. De púrpura. De
prata. De delicadeza.
Lido Dionísio Dinis
Hilda Hilst
in “Preludios-Intensos para os Desmemoriados do Amor”
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