quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Afinal o que importa não é a literatura


Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante!

Afinal o que importa é não ter medo:! fechar os olhos
frente ao precipício e cair verticalmente no vício

Não é verdade, rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita
gente: Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do
peludo à saída da pastelaria, e lá fora - ah, lá fora! –
rir de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta ter lavados e
muitos dentes brancos à mostra

Mário Cesariny

Lido por Fátima Ferreira e Francisco Ferreira

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