Afinal o que importa não
é a literatura
nem a crítica de arte nem
a câmara escura
Afinal o que importa não
é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao
lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não
é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de
compor uma estante!
Afinal o que importa é
não ter medo:! fechar os olhos
frente ao precipício e
cair verticalmente no vício
Não é verdade, rapaz? E
amanhã há bola
antes de haver cinema
madame blanche e parola
Que afinal o que importa
não é haver gente com fome
porque assim como assim
ainda há muita gente que come
Que afinal o que importa
é não ter medo
de chamar o gerente e
dizer muito alto ao pé de muita
gente: Gerente! Este
leite está azedo!
Que afinal o que importa
é pôr ao alto a gola do
peludo à saída da
pastelaria, e lá fora - ah, lá fora! –
rir de tudo
No riso admirável de quem
sabe e gosta ter lavados e
muitos dentes brancos à
mostra
Mário Cesariny
Lido por Fátima
Ferreira e Francisco Ferreira
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