CERZIDEIRO
(IV)
(Vestido para morrer)
Custoso marchei para terras do planalto
deixando nas costas amargura
uma lágrima interiormente escondida
milhões de razões para desertar;
- larguei pela estrada de negro asfalto
pedaços duma vida que só seria segura
esquecendo a dor duma paixão escondida
e enfrentar a guerra finda, por
terminar
Treinei a espaços o já experimentado
entre risos, largas recordações a
meninice
repassando corpos caras a goiabeira
mergulhos nas águas da imaginação
lutas "lusitanas" rei destronado
índios cowboys até um xerife
c' as calças passajadas pela
cerzideira;
_ Escutei dum vira latas ladrar de cão!
"Corre sacana isto né pra
meninas"
suscitando-me a dúvida do nascimento
numa difícil e premente escolha;
_ fora o gajo cágado em vez de parido?
- Redobrar d'atenção: Vejam exas
minas...
soava a voz parecida à dum jumento
animal esperto. De profissão trolha
cabo de guerra seria o futuro escolhido
Entre saltos, valas, mergulhos em
lagoas
disparos, tirinhos de pólvora seca
continência à bandeira solta ao deus
dará
assinalando, de longe c' bons ventos
só (!) os corpos das gajas boas.
- A cada tertúlia aumentava a peta
dos combates no Marçal nada se contará;
_ já se vendiam em Fátima velas c'
lamentos
Mostraram os cineastas dos filmes
militares
pressa d' apresentar em última versão
heróis tombados por jipes atropelados
e rixas à tardinha entre cerveja e
tremoço.
- Cabelos modernos, e dados a bons ares
tanques descapotáveis antecipando o
verão
eis que mostravam perfil de bons soldados
prontos a combater, antes do almoço
Chegado Maio mais um grande comício:
_ caído o império viria a fartura
representação simbólica em punhos
cerrados
estandartes de cor de sangue estranho
que a metade verde seguira pró
hospício;
_ finalmente derrotavam a ditadura!
- Deslumbrados c' os candeeiros
engalanados
não pensaram ser maior a perda q' o
ganho
Esticou-se a euforia a outros
territórios
matizou-se o riso com a desgraça
vagueando de arma em riste
perdia o melhor da minha juventude
montando em cima de carros alegóricos
dando corpo ao que fora um golpe sem
graça
em que a pena do poeta não resiste
e explicitando a toda a traição alude
Rasgava-se o peito invadia-mo desprezo
não tardei a despir suja roupa
suprimido o canto de 'Angola é nossa'
por palavras vindas do velho continente
e por reclamação, destino, ser preso!
- Só vive quem na vida as palavras
poupa,
sabia q' elas não matam mas fazern
mossa
e eu podia morrer longe de nha gente.
Adolfo
Castelbranco
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